16 de junho de 2008

Voltando pra casa.


A pequena ria muito, sentada no colo da vó que ignorava toda a barulheira. Percebo alguns ipês pelo caminho, e me deu vontade de fotografar um pequizeiro tão torto alí na Asa Sul mesmo.
Tenho Kundera no colo, aberto, discreto, que samba conforme os buracos da via...ouvia bem a menina que gritava em cada curva, ainda no colo da avó. Por minúcias do tempo, franzi a testa, reprovando aquela zuada incomum. Sim, ela gritava quase louca, mas ora...em seguida cá me invejo. Ai se fosse eu a menina, sentada no colo de vó, achando a graça do frio na barriga em curvas mais bruscas. O ônibus vazio, fazia um barulho de lata solta, o cobrador ria todo da cena, ele é quase padrinho da pequena, eu quase fui lá gritar junto. Engoli meu berro, porque tenho ainda letras de Kundera a serem percorridas. " Posso dizer então que o amor era para Franz, a espera contínua do golpe". Lembrei imediatamente do Michel e das tantas formas de reencontro, das pessoas que nos foram golpes intensos e severos, golpes que baqueiam a dança, dispersam os passos, que fazem a gente tremer pernas, cair de vertigem. De amor sempre caí. Não estanco.E não me culpo por ser intensa, nem por doer aguda ou gozar tão febril.Carrego comigo muito bem costurado, pontos dados desses amoresgolpes. Acho mesmo e é isso, acho mesmo que só sou por conta, e tudo muito me caracteriza tão clichê, bossa em boca molhada, mesa torta de bar, gole de vinho tinto.Um viva aos meus clichês!! Hoje visto verde, o casaco da Dêda que me é acalanto em noites frias,visto vertigem solitária,volto pra casa verde, Kundera entre braços, rua bem vazia, eu vazia um cado, mas com a intensa vontade de ser a menina que berrava nas curvas. Linda e simples, sem pra quê ter dessas vergonhas!

4 comentários:

Eduardo Ferreira disse...

tava cá pensando em como este texto me cavou memórias de um livro recentemente lido.

"dê a nuvem de presente"
"como?"
"descreva-a"

perfeita descrição tati, por um segundo me fez pensar q vc poderia parar de bater lindas fotos... felizmente por apenas 1 segundo.

Ju Marques disse...

Não há do que se envergnhar quando a intensidade é a marca do que somos! É pra poucos essa coisa toda de se permitir o saltitar de alegria, e o desmoronar nos momentos de dor... sem máscaras.

JFGama disse...

lindo.

Ju Marques disse...

Ah! e eu tenho esse livro tb.